Poucos beneficiaram-se tanto da vertiginosa ascensão econômica chinesa das últimas décadas quanto o Brasil. Em 2004, durante visita de Estado à China, o então presidente Lula declarava — num seminário empresarial com participantes majoritariamente brasileiros — que a China representava para o Brasil “um shopping center de oportunidades”.
Esta plataforma de negócios constituiria a espinha-dorsal (nos dizeres dos brasileiros) de uma "parceria estratégica" com a China. Embora o comércio bilateral tenha se multiplicado nos últimos anos (saltou de US$ 2,3 bilhões em 2001 para US$ 77 bilhões em 2011), o que fez da China principal parceiro comercial do Brasil em volume de trocas, tanto a imagem do "shopping center" como a da "parceria estratégica" são exageradas.
A ideia de "shopping center" dá a impressão de muitas janelas de oportunidades para o comércio brasileiro voltado à China. Isso não ocorre. São poucas, embora volumosas, as vias de entrada no mercado chinês. No caso de mercadorias brasileiras, concentram-se no envio de commodities agrícolas e minerais.
Quanto à "parceria estratégica", o peso que o Brasil atribui à China é muito maior que a importância atribuída por Pequim ao Brasil. Os mercados dos Estados Unidos e da Europa são as verdadeiras prioridades estratégicas para exportações chinesas de produtos industriais.
Agora que a economia chinesa dá sinais de arrefecimento - reflexo da crise global e da própria "metamorfose" do modelo chinês rumo a uma economia de maior valor agregado e também focada em seu mercado interno -, muitos analistas se preocupam com efeitos colaterais negativos sobre a economia brasileira.
Se é verdade que nos tornamos mais "sinodependentes" (17% das exportações brasileiras têm por destino a China), é fato também que o perfil das relações econômicas bilaterais e a natureza da desaceleração chinesa não devem repercutir tão perversamente sobre o Brasil.
Como o país apresenta pequena participação do comércio exterior na composição de sua economia (18% do PIB), exportações anuais à China (US$ 44 bilhões em 2011), representam apenas 1,7% do PIB brasileiro.
Embora o potencial chinês de investimento no Brasil seja grande, a China tampouco pode ser considerada grande centro irradiador de IEDs (investimentos estrangeiros diretos) para o Brasil.
Seria um erro supor que a desaceleração chinesa venha a afetar sobremaneira nossas exportações de commodities agrícolas. Ainda que em ritmo menor, ganhos incrementais da renda per capita na China manterão aquecida a demanda por produtos agroalimentares.
O Brasil também se beneficiará das políticas contracíclicas que a China implementará nos próximos meses. Prosseguirá a expansão do investimento em infraestrutura, de grande impacto sobre os níveis de emprego - preocupação primordial das autoridades chinesas.
Com isso, remessas brasileiras de commodities minerais e produtos siderúrgicos continuarão robustas. Em vez de se preocupar com o "pouso suave" da China, o Brasil deveria arregimentar seus superávits comerciais em bens primários e semimanufaturados - que continuarão expressivos - como fonte de recursos para o incremento do indispensável componente de tecnologia e inovação em sua economia.
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Marcos Troyjo é diretor do BricLab, da Universidade Columbia, e professor do Ibmec